domingo, 14 de fevereiro de 2021

FILME: A boa mentira




O quão grato você é ou demonstra ser? 

Até que ponto vale mentir?

O que a nossa liberdade significa para nós? E para os outros, o que ela significa?

"A boa mentira" é um desses filmes que nos coloca para refletir acerca de muitos desses questionamentos. 

O filme dirigido por Philippe Falardeau, conta a história de um grupo de garotos sudaneses que, juntos, enfrentam o terror da guerra civil, que assolou o país entre 1983 e 2005, em uma caminhada de milhares de quilômetros em busca de abrigo e sobrevivência. 

Durante essa longa caminhada, o grupo de crianças enfrenta todo tipo de perigo e aos poucos vê o grupo diminuindo morte após morte, seja nas mãos de guerrilheiros, seja por doenças ao longo do caminho.

Seguindo as tradições aldeãs, sempre que uma das crianças morre, a mais velha é nomeada como líder do grupo, tornando-se responsável pela sobrevivência dos demais. É a captura de um desses líderes que encerra o primeiro ato do filme e deixa o terreno pronto para o segundo ato.

As crianças sobreviventes conseguem finalmente chegar a um campo de refugiados, onde vivem por treze anos, carregando os traumas e culpas do passado, principalmente o desaparecimento do amigo de caminhada.

As quatro crianças sobreviventes, agora jovens adultos, são acolhidos por um programa americano para refugiados e partem rumo ao Estados Unidos. Abital (Kuoth Wiel), a única menina do grupo é separada de seus irmãos e enviada a outro estado. Já os rapazes Mamere (Arnold Oceng), Jeremiah (Ger Duany) e Paul (Musician Emmanuel Jal) são recebidos pela assistente social Carrie Davis (Reese Witherspoon) que pouco se interessa pelo passado dos rapazes.

Aos poucos Carrie se envolve com seus protegidos e passa a colhe-los de forma quase maternal, ajudando-os com buscas de empregos, estudos e até mesmo os livrando de pequenas confusões policiais. Carrie passa a fazer parte do grupo de alguma forma e até mesmo promove o emocionante reencontro entre os Rapazes e Abital.

Quando a vida do grupo de refugiados parece estar entrando nos eixos novamente, há uma reviravolta ao descobrirem que o antigo líder do grupo de crianças, que havia sido capturado está vivo.

Com a ajuda de Carrie, Mamere retorna ao Sudão para tentar incluir seu amigo no programa de acolhimento do governo americano, é então que entendemos o título e os ensinamentos de "A boa mentira". Com um final tocante e surpreendente, "A boa mentira" é um filme sensível, tocante e que nos faz refletir sobre muitos assuntos.

Ele pode ser visto no sistema de alugueis do YouTube ou pelo canal a cabo HBO Mundi.




Título original
The Good Lie
Distribuidor
Ano de produção
2014 



 

sábado, 30 de janeiro de 2021

303. Aquele filme cabeça que dá um quentinho no coração

 




Ahhhh o cinema alemão.... Que coisa maravilhosa é o cinema alemão... Quem me conhece sabe minha imensa simpatia pelas produções alemãs.

Diálogos longos e complexos, muitos e muitos takes pra apresentar todos os ângulos possíveis da mesma cena, iluminação sempre contida - as vezes - até monocromática e muita, mas muita floresta. 

Não é errado dizer que 303 carrega praticamente todos esses elementos em um filme quase simplista, porém muito sensível. 

Dirigido por Hans Weingartner, 303 conta a historia de Jule e Jan, dois jovens universitários em busca de resolver questões pesadas de suas próprias vidas. Jule (Mala Emde) está a caminho de Portugal para encontrar o namorado e lhe dar a notícia de uma gravidez que chegou no pior momento do relacionamento. Jan (Anton Spieker) está a caminho da Espanha para encontrar o pai biológico que nunca conheceu.
Seus caminhos se cruzam em um posto de gasolina após Jan perder uma carona. Ele segue com June a bordo de seu simpático motor home cujo modelo dá título ao filme. Há um estranhamento inicial entre os dois devido a falta de noção situações vividas por June no passado. Porém isso tudo cai por terra após ele fazer o básico e defende-la de um sujeito que tenta estuprá-la.

A partir daí entramos no segundo ato do filme e embarcamos juntos com os personagens em uma bela viagem por bucólicas paisagens europeias, permeada por infindáveis conversas sobre política, visões de mundo, amor e outras profundidades.
303 é um filme de diálogos inteligentes, fluidos e que nos guiam no poço sem fundo da personalidade de Jule e Jan. É durante esses longos diálogos que entendemos os traumas que ele carrega por ter sido criado por padrasto que o rejeitava e que acreditava que fosse seu pai. Já em relação a Jume, diretor erra ao dar o tom da personagem ao deixar de lado o traumático suicídio de seu irmão e dar uma solução extremamente óbvia em relação a sua gravidez.
        Para além de todos os vieses políticos e sociais dos diálogos, existe muita descoberta. E
são essas descobertas que dão tom ao filme. Entre paradas, paisagens de tirar o fôlego e muitos quilômetros rodados, os personagens vão se encontrando cada vez mais consigo mesmos e em dado momento encontram-se um no outro. Com pequenas aproximações e toques, discretas trocas de olhares e muita cumplicidade eles descobrem o amor do qual tanto teorizam em suas conversas ao longo da viagem.
        Apesar de o roteiro se mostrar em vezes preguiçoso na resolução de certos conflitos e de um caminho um pouco óbvio para os personagens, 303 é um filme belíssimo. A fotografia consiste em paisagens e mais paisagens de diversos países europeus, o que por si só é um deslumbre, além de mostrar em cena uma iluminação quase em tom sépia deixando o filme sempre com aspecto de iluminação indireta. 
        É o filme ideal para aquela tarde de sábado que você esta oscilando entre ver uma comédia romântica ou um filme cabeça / cult. Maasssss não tem no Brasil beninas por enquanto ele não está disponível em streamings e pode ser visto de vez em quando no canal a cabo HBO Mundi. 










“303” (Alemanha, 2018)
Escrito por: Hans WeingartnerSilke Eggert e Sergej Moya
Direção: Hans Weingartner
Elenco: Mala Emde, Anton Spieker, Arndt Schwering-Sohnrey